- Qual o seu medo?
- O meu medo? Que ele deixe de estudar. Tá sendo muito preocupante, porque você criar um filho e você ver ele sofrendo porque não tem como ir para o colégio... Tá sendo muito desgastante para mim.
Quando cheguei na casa da irmã de Evelin, no bairro Alvorada, encontrei uma mulher abatida, olhos inchados, com a aparência de que havia dormido pouco na noite anterior.
Minutos antes de conhecê-la, dei uma lida rápida na pauta: "vamos mostrar a história de pessoas que ganharam casas no conjunto habitacional Viver Melhor, mas agora vivem o drama de não terem escola para os filhos estudarem próximo de onde vivem".
"Ué, mas pelo menos eles tem um local para morar, isso deveria ser motivo de felicidade" - pensei. Porém, a mulher que me estendia a mão não me passava a impressão de algo bem diferente disso.
Sentamos na varanda e começamos a conversar.
Evelin mora desde o dia primeiro de março em um dos apartamentos do Residencial Viver Melhor. O conjunto habitacional faz parte do Programa Minha Casa Minha Vida, do Governo Federal, e deu moradias a mais de 8 mil famílias. Apesar de todas as críticas existentes sobre o projeto, ele deve ter tirado muita gente de regiões precárias da cidade e - talvez - tenha dado esperança para alguns cidadãos de que um futuro digno é possível.
Quer dizer... Nem tanto.
O futuro foi o foco da minha conversa com Evelin.
Quem já foi ao Viver Melhor reconhece que o local é organizado, tem ruas asfaltadas, largas, casas bonitas, e que o lugar parece mesmo um condomínio. Mas basta poucos minutos para concluir que a ideia de "bairro planejado" ainda está um pouco longe de atingir a sua plenitude. Primeiro: o conjunto fica localizado no bairro Santa Etelvina, bairro bem distante, e nem todas as linhas de ônibus passam por lá. Segundo: faltam outros serviços básicos de um bairro comum.
E é um desses serviços que tem tirado o sono e a paz de Evelin: a dificuldade de acesso a educação. Só existe uma escola no local, que apesar de ter uma ótima estrutura e ser de tempo integral, não consegue atender a todos os moradores. Resultado: muitas crianças e adolescentes precisam ir para outros bairros para continuar estudando.
"E qual a dificuldade nisso?", alguém poderia se perguntar.
- Geralmente é assim: 15 para as 4 da manhã eu e meu filho acordamos. Cinco horas nós saímos, pegamos dois ônibus e por volta das 6 e 30 a gente chega aqui na casa da minha irmã pra tomar café. Depois de deixá-lo, eu vou trabalhar. Geralmente as clientes pedem pra serem atendidas depois do expediente, lá pras 6 horas da tarde. Por isso, depois que eu pego o meu filho, por volta das 4 da tarde, a gente fica na praça do Dom Pedro até dar o horário dos atendimentos. A gente chega em casa quase meia noite. É essa a rotina que eu tô vivendo.
O depoimento explicou a cara de abatida.
Evelin é maquiadora, não tem renda fixa. Gasta cerca de 400 reais por mês só com vale-transporte e não sabe até quando vai conseguir garantir que o filho continue frequentando as aulas.
Durante quase um mês ela disse que pediu, tentou, implorou por uma vaga na única escola do conjunto habitacional Viver Melhor, mas infelizmente não conseguiu.
- Você chega a pensar em desistir?
- Hoje foi um dia que eu pensei muito... É muito humilhante, eu queria muito que todas as pessoas entendessem a situação. Eu sei que há condições de acatar o nosso apelo. São crianças que moram lá, crianças que tem que viver lá!
Hoje era aniversário de Evelin.
"Uma mãe que precisa decidir entre a educação do filho e viver em um local digno, isso é viver melhor?"
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O outro lado:
- A Seduc informou que, por enquanto, esta é a única escola da rede estadual que pode atender a comunidade.
- A Semed disse que em Abril deve entregar duas unidades: uma de Educação Infantil, com capacidade para 500 vagas, e outra de Ensino Fundamental para 900 alunos.
Por Camila Baranda
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